Rafael Brittus não é apenas um baterista talentoso da banda de metal extremo Dark Inquisition, com mais de 23 anos de estrada, mas também um exemplo vibrante de como paixão e profissão podem coexistir harmoniosamente. Trabalhando como vendedor em uma loja de instrumentos musicais, Rafael usa seu trabalho diário não apenas para sustentar sua vida mas também como uma plataforma para expandir seu networking e, por extensão, as oportunidades para sua banda. Embora a Dark Inquisition seja relativamente desconhecida no Brasil, o sonho de conquistar palcos maiores e eventos mais significativos nunca desvanece. Através da plataforma Casas de Shows, Rafael vê uma janela de oportunidades para realizar esses sonhos, demonstrando o impacto que a conexão certa pode ter na trajetória de um artista.
Rafael, pode nos contar um pouco sobre as origens da Dark Inquisition? Como a banda foi formada e como você se juntou a ela?
Primeiramente, gostaria de agradecer a oportunidade e o espaço concedido para contar um pouco da minha trajetória e vivência na música. A Dark Inquisition foi formada, como a maioria das bandas que conhecemos, por amigos que gostavam de Rock/Metal e se juntaram para tocar o som que apreciavam. Começamos com o nome The Nomad, tocando covers variados. Depois, passamos a nos chamar Unreal, já com uma temática mais voltada para o Dark Metal e Doom Metal, e por fim nos tornamos Dark Inquisition, com influências de Pagan Metal, Black, Death e Folk Metal. Nessa época, eu já admirava e acompanhava a banda em ensaios e apresentações. Paralelamente, eu tinha uma banda de covers com o irmão do vocalista do Dark Inquisition, o Danilo. Em meados de 2004, com uma mudança na formação, surgiu o convite para que eu assumisse as baquetas, já que eu conhecia as músicas e todos os membros da banda. Foi um convite muito importante para mim naquele momento, que estava descobrindo novas bandas e me aproximando ainda mais das vertentes mais pesadas do Metal. Logo que entrei, tive a dura missão de ensaiar para a gravação do EP Pagan Age. Foi um mundo totalmente novo para mim, mas foi ali que tive a certeza de que era isso que eu queria fazer pelo resto da vida: ter uma banda de metal, gravar e tocar pelo mundo.
Quais são suas principais influências musicais? Há algum baterista ou banda que inspire particularmente seu estilo?
Minhas maiores influências vêm de várias vertentes do Metal, especialmente dos gêneros tradicionais como Heavy, Death, Black e Thrash Metal. Também ouço outras bandas dentro do vasto catálogo de Metal mundial, mas fui moldado nessas três vertentes. Entre os bateristas que me influenciam, não posso deixar de citar grandes nomes da história como Bill Ward, Neil Peart, Cozy Powell, Vinny Appice, e no Metal Extremo, referências como Igor e Max do Krisiun, Amilcar do Torture Squad, George Kollias, Derek Roddy, e claro, o maior de todos… Pete “Commando” Sandoval.
Como é o seu dia a dia conciliando o trabalho na loja de instrumentos com a carreira na música? Você encontra desafios específicos nesta dupla jornada?
Não é uma jornada fácil. Muitas vezes, estou cansado da correria do dia a dia e ainda consigo arranjar tempo e forças para fazer aquilo que amo: tocar metal com minha banda e meus amigos. Isso revigora qualquer pessoa. Não é fácil, nunca foi e nunca será, mas é recompensador depois de uma longa semana de trabalho e estresse poder sentar numa bateria e extravasar todos os sentimentos acumulados. O maior desafio é andar no transporte público tarde da noite com várias partes de bateria. Não é fácil. Na próxima vida, venho tocando gaita, que é mais fácil.
A Dark Inquisition tem mais de duas décadas de estrada. Como vocês têm se adaptado às mudanças no cenário musical e nas formas de consumo de música ao longo dos anos?
Ao longo dos anos, acompanhamos atentamente o mercado. Lá atrás, quando iniciamos nossa jornada, a forma de consumir e distribuir música era bem diferente e complexa. Para que alguém pudesse ter acesso ao seu material, era somente comprando mídia física, algo que sempre foi e ainda é muito caro. Hoje em dia, temos a facilidade dos apps de música, mas isso se tornou algo muito impessoal. O ouvinte escuta sua banda hoje, mas se amanhã uma banda lançar algo novo, sua música já é passado. Esse é um dos desafios para quem tem banda hoje em dia: fazer o público consumir o seu trabalho por mais tempo e de forma mais constante. Eu ainda sou adepto do CD, ainda compro e tenho minha coleção, mas entendo que nem todos têm essa vontade hoje em dia, então temos que nos adaptar a este novo cenário.
Como a plataforma Casas de Shows ajudou a Dark Inquisition e você pessoalmente na busca por maiores e melhores oportunidades de apresentação?
A ideia da Casas de Shows é algo inovador e formidável. Facilmente, você acessa o site e vê relatos verdadeiros de pessoas que frequentaram aquele espaço que você tem interesse em fazer um evento. Pode parecer que não, mas até uma informação como “o ambiente tem banheiros limpos” já faz uma grande diferença para as bandas. Um relato verdadeiro sobre como é a estrutura da casa é algo muito importante, porque sempre os donos das casas falam as mesmas coisas: “Não, pode vir que aqui tem tudo, é só chegar e tocar.” Nessas frases, já passei cada uma que daria até um livro.
Há algum momento particularmente memorável ou significativo em sua carreira com a Dark Inquisition que você gostaria de compartilhar?
Sim, quando tocamos na Feira Entre Mundos, salvo engano, em 2016 ou 2017. Fomos uma das bandas principais e dividimos o palco com grandes amigos e irmãos de estrada. Porém, o que mais me marcou nesse evento foi a presença de uma garotinha de aproximadamente 8 ou 9 anos de idade. Ela assistiu ao show todo, olhando atentamente cada movimento que eu executava na bateria. Aquilo me chamou tanto a atenção que dei a ela as baquetas do show. Ela correu falando: “Mãe, mãe, mãe, ganhei as baquetas!” Alguns dias depois, a mãe dela me procurou no Facebook e me disse que ela levou as baquetas para a escola, mostrou às amigas e aos professores e disse aos pais que queria tocar bateria. Não sei ao certo se ela realmente seguiu esse caminho, mas se sim, fico muito feliz em ter influenciado ela a tomar a decisão de tocar bateria.
Qual é a sua visão sobre o futuro da Dark Inquisition? Há planos para novos projetos ou álbuns?
Ao Dark Inquisition, eu sempre corro e almejo coisas boas e grandiosas. Nem sempre conseguimos, mas se não pensarmos assim, ninguém vai pensar por nós. Estamos com uma nova formação que está muito coesa, pesada e criativa. Vêm sons novos por aí e com certeza vamos entrar em estúdio para lançar novo material, visto que não lançamos nada há um tempo. Nosso público precisa disso e nós também. A renovação é sempre importante para quem tem banda; estagnar nunca é uma boa.
Por fim, que conselho você daria para músicos que estão começando agora e sonham em fazer da música sua principal forma de expressão e carreira?
Parece até plágio e clichê, mas a frase é a mesma que todos dizem: corram atrás, lutem, não desistam. Se lutando todos os dias já é difícil, imagina lutar só às vezes, ou esperar que o amigo do primo do dono de algum lugar bom te chame para tocar e mostrar o seu trabalho. Então, estude o máximo o seu instrumento, descubra-se como músico e como pessoa, e com o estilo que você quer trabalhar. Seja verdadeiro em suas decisões. Com isso, com certeza você terá uma carreira bacana, vai olhar para trás e se orgulhar do caminho que trilhou. E se no fim nada der certo, com toda certeza você terá muitas histórias boas para contar, porque se tem algo que a vida na música te rende são boas histórias, boas amizades e ótimos momentos.
Deixo aqui um grande abraço a todos e um agradecimento especial a você que leu até o fim. Desculpe se me prolonguei. Nos vemos em algum evento! Hails, my armor is my pagan pride!!!
Perfil no Casas de Shows: https://casasdeshows.com.br/atracao/dark-inquisition
Instagram: https://instagram.com/rafael_brittus86hd